Ninguém me vê. Avanco sempre mascarado
com palavras. As máscaras estão partidas.
Escrevo para me encontrar. Perco-me à medida
Que me encontro. Estou perdido
Em labirintos sem saída
feitos de não-ditos e de palavras.
As palavras que escrevo apagam-me
e as que apago dão-me vida.

Não falo. As palavras que nao digo
São as que fazem mais sentido.
Palavras são de todos.
Estou bem mais nos meus silencios
Que nas palavras. Silencios sao meus.
Estou mais nas minhas ausências
Que onde estou. Sou como Deus.

Sou o grande ausente. Omnipresente.

O corpo fala. Ninguém me vê debaixo da pele.

Para ouvir alguem não o escuto. Olho para ele.
Palavras sao nada. O corpo não mente.

Nao tenho pais. Sou o filho da necessidade.

Falam nos deveres do individuo
perante a sociedade.
É a sociedade que se deve ao indivíduo.
Não o contrário. Nada somos sem liberdade.