Nos olhos de quem não dorme
Há a sede e a fome
Há um homem
Sem nome
há uma boca enorme
Que nunca se fecha
Há um enorme bocejo
Há uma brecha
Onde cai o homem
A noite que desfaz um homem
Está nos olhos de quem não dorme
O sono de quem nao dorme
é um arco sem flecha
Que mata um homem
Quem não dorme
Torna-se um estranho
Entre os seus
Torna-se um estranho
Entre os seus
Esquece o seu nome
Torna-se um estranho
Torna-se um estranho
Para si mesmo
e para Deus
Nos olhos de quem nao dorme
há o cansaço
há o fracasso
há o desgosto
A noite de quem não dorme
É como as mulheres com véus
Com olhos que espelham os céus
De que ninguém vê o rosto
Tem a má fé dos ateus
Vive no olho de Deus
O sol é o olho de Deus
Quando se abre
A noite arde
O mundo não cabe
Nos olhos dos ateus
Quando o olho de Deus
se abre
As almas tornam-se informes
Os corpos mudam de tamanho
Os corpos mudam de tamanho
A noite de quem não dorme
Vive em espelhos de estanho
Feitos de sede e de fome.
Vive em espelhos de estanho
Feitos de sede e de fome.
O olho de Deus é enorme.
Há tanta gente quem tem fome.
Há tanta gente que não come.
Há tanta gente que não dorme.
Já não te lembras do teu nome.
Há quantas noites que não dormes?
Vives num sonho estranho opaco
Como um ratinho num buraco.
Luzes cortam como uma faca.
Vives num sonho estranho opaco
Como um ratinho num buraco.
Luzes cortam como uma faca.
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